Crônica

Literatura

2022

Explicamos o que é a crônica e a que gênero ela pertence. Crônica jornalística, literária e histórica. Exemplo de uma breve crônica.

Exemplo de reportagem.

O que é uma crônica?

Quando se fala de crônica, geralmente se refere a um gênero narrativo duplo, parte literário e parte jornalístico, pois não tem a liberdade de imaginação da ficção literária, mas usa abundantemente seus recursos formais para abordar eventos e personagens real, verdadeiro e verificável. Gabriel García Márquez, famoso jornalista e escritor colombiano, definiu o crônica como "uma história que é verdadeira".

As origens da palavra crônica remontam ao grego kronika, uma palavra de cronos (tempo), uma vez que se refere a um narração ordenados de acordo com sua linha do tempo. É por isso que as primeiras crônicas que se conhecem eram, justamente, relatos de acontecimentos ordenados de acordo com o momento histórico, semelhantes a diários íntimos ou relatórios.

A crônica popularizou-se no campo jornalístico a partir do chamado New American Journalism (Novo jornalismo), que consistia em uma geração de repórteres e escritores de vanguarda, dada ao uso desse gênero para refrescar a cara do jornalismo. Com isso conseguiram inverter a tradicional pirâmide informativa do paradigma de Harold Lasswell, que estabelecia a obrigação de todos Notícia para conter primeiro todas as informações relevantes e depois o conteúdo adicional. o crônica, por outro lado, propõe o caminho inverso, como fazem os contos literários.

Atualmente existem debates acadêmicos sobre se a crônica é ou não um gênero literário ou jornalístico. E a partir do enfraquecimento das fronteiras entre os gêneros da Fala (jornalismo, literatura, pedagogia, arte, etc.) que caracteriza a contemporaneidade, esse debate se torna ainda mais difícil.

Tipos de crônica

A classificação do gênero da crônica é sempre discutível. Mas geralmente são classificados de acordo com sua abordagem ou tema, e o grau de fidelidade com a verdade histórica que demonstram.

  • crônica jornalística
    • Crônica Esportiva
    • Crônica negra ou de eventos
    • crônica política
    • Crônica da Sociedade
    • crônica de viagem
  • crônica literária
  • crônica histórica

De acordo com sua abordagem jornalística, as crônicas jornalísticas também podem ser classificadas como informativas ou branco (maior grau de objetividade, mais parecido com a notícia) e interpretativo ou opinativo (investigar, interpretar e explicar a razão do que é narrado).

exemplo de crônica

Segue um fragmento da crônica da jornalista Marta Ruiz, para o jornal Semana publicado em 23/02/2013.

Breve crônica de uma viagem a Havana (fragmento)
Marta Ruiz

Há duas semanas peguei um avião e fui a Havana para ver em primeira mão o que está acontecendo lá. Acordei cedo para o Hotel El Palco, em cujo centro de convenções acontecem as reuniões de guerrilha do governo. Ao contrário da crença popular, há pouca imprensa colombiana lá. Naquele dia, às vésperas do fim de uma rodada que começou com os ânimos acalorados pelo sequestro de dois policiais, estavam apenas os correspondentes da RCN e Caracol e um punhado de jornalistas cubanos.

Naquela manhã Iván Márquez estava diante do microfone e leu as 10 propostas mínimas para o reconhecimento político dos camponeses. "Sempre ganhamos 10", disse durante o café, referindo-se ao ritual diário de apresentar ideias sobre o que seu colega de governo, Humberto de la Calle, chamou de "o divino e o humano". Márquez aproveitou o intervalo para terminar um charuto grosso que já estava meio fumado. Naquela época, era desconhecida a foto em que o líder guerrilheiro posa para a câmera em uma motocicleta Harley Davidson, e que confirmava, junto com o tabaco, que a revolução de Márquez não se opõe a certos prazeres.

Enquanto as FARC realizam seu ritual matinal, a delegação do governo passa em silêncio, sem nem olhar para o que consideram um espetáculo midiático. Mas os jornalistas quebram a cabeça tentando encontrar uma história que realmente desperte interesse na Colômbia. Apesar de que o dia do jornalista nos pegou por lá, e que as FARC o comemoraram com um mojito, e que eles gritaram com muito entusiasmo: Viva os comunicadores sociais!, os guerrilheiros acham que o baixo perfil das conversas devido para uma estratégia de mídia. Um dos delegados da insurgência é francamente nostálgico: “Gostamos mais do esquema de Caguán porque estávamos mais próximos dos jornalistas. Agora eles os mudam a cada rodada.”

Naquela tarde, tive uma conversa informal com Sergio Jaramillo, Alto Comissário para a Paz do governo de Santos. Naqueles dias, como ele me contou, houve avanços muito importantes na Mesa sobre a questão fundiária, mas, respeitando a regra do sigilo, ele não mencionou o conteúdo. Assegurou-me que, se continuar a este ritmo, é possível chegar a um acordo-quadro num prazo razoável. Quando lhe perguntei sobre o clima ruim do país em relação aos diálogos, ele não escondeu sua amargura: "O campo urbano parece não se importar com o que acontece no campo", me disse.

De ambas as delegações, destaco o respeito mútuo com que se tratam e a incrível disciplina que têm em não quebrar o sigilo da Mesa, sinal de que ambas querem cuidar do processo. O que eles comentam é que as metodologias de abordagem das questões são muito diferentes. É algo como o materialismo histórico contra o Power Point.Enquanto as FARC fazem longas apresentações históricas sobre o problema fundiário, que sobrecarrega os membros do Governo, eles por sua vez tiram slides com números muito pragmáticos para explicar aos demais como funciona o mercado rural e/ou o cadastro. Afinal, é disso que se trata o diálogo.

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